terça-feira, 10 de abril de 2012


Carnaval sem folia

Depois de ficar quarenta dias e quarenta noites na Capital numa maratona de estudos, artigos, parágrafos, incisos, várias leis, enfim chegou a data da prova para o concurso da Previdência e foi como retirar um peso das costas. De volta para Cachoeira, mais um turbilhão de textos, pautas, artigos, seminários, comentários uma premiação a organizar e por fim o sucesso, a festa, a confraternização, os elogios.
Mais um recorte no semestre, e um Carnaval de prazos se expirando. Nada como estar em minha terra natal, Castro Alves, desfrutando do carinho dos meus familiares, vendo a bandinha passar, com os alunos do Colégio Imaculada Conceição todos fantasiados. É o gostinho da folia passando.
 O que quero mesmo é tranquilidade, ouvir os pássaros cantando quando eu acordar, respirar ar fresco, o galo cantando no terreiro, é sábado, dia de feira livre.
O beiju quentinho, o cheiro das frutas, bananas, laranjas, jacas, jambos, maças, peras. No mercado as carnes vermelhas, o cheiro fresco do gado, do sangue. Os vendedores cobertos de farinhas. A farinha de mandioca mais gostosa do mundo é daqui. Quilos e mais quilos, carnes e mais carnes, os conterrâneos fazem as compras e vão para a Ilha, é verão.
Eu fico aqui. Casa de minha mãe, de meu pai, de minha tia, de minha sogra. Comidas sem meu tempero, passeio na praça, ando descalça, tudo é aconchego e graça.
Uma piada nova, ou uma notícia antiga que se renova a cada vez que é contada. As dificuldades dos mais velhos, os passeios de antigamente, a lida na roça. Tudo se transforma numa lição de vida.
Na feira livre os abraços dos mais velhos ou mesmo dos novos que estiveram distantes por algum tempo a dizer: Olha só como cresceu! Como está mais gordinha! Já está casada? Já tem filhos? Está morando onde? Estudando ou trabalhando?
Do outro lado da feira os vendedores de roupa gritando feitos malucos para convencer-nos que estão ali o melhor preço, a melhor peça e a maior variedade: “Mulher que não se ajeita, o marido rejeita”, entre outros bordões.
As conversas vão rendendo e é aí que a gente vai se dando conta que por aqui nada muda. As pessoas nascem, crescem, se casam, tem filhos e ficam por aqui, ou vão embora a procura de uma profissionalização.
E a cidade permanece pacata, com suas figuras pitorescas, que dão todo um ar de alegria, algumas das tradições foram perdidas, outras reinventadas.
É vergonhoso ver como a mídia transforma a imagem de Castro Alves, distorcendo o que existe por lá, sem valorizar a cultura e as belezas naturais.

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