Segredos do Recôncavo
Talentos inexplorados, arte e cultura
em Castro Alves
A pequena cidade do recôncavo, Castro
Alves, abriga grandes ícones que são em si mesmos a história viva, como os
longevos Aurino Teixeira e Maria Eulina Novaes, a namoradinha de Castro Alves,
e talentos, um tanto inexplorados como o escritor Vanderlei Nunes Rodrigues.
Castroalvense, mais conhecido como
Zaga, ele ocupa a cadeira de Nº 12 da Academia de Letras e Artes de Castro
Alves e é ator amador. Tem publicada a obra “Entre o Sonho e a Realidade”, que
reaviva em nós a ideia de sonhar mais e acreditar em nossas escolhas. Dono da
Companhia de Teatro Skandalu’s, que permanece de pé há quinze anos, devido ao
esforço e dedicação de todos seus membros e de parcerias que se renovam com
muita luta a cada novo espetáculo.
A CIA nasceu em março de
1995, com a finalidade de angariar fundos para uma festa de conclusão do curso
de ensino médio. A primeira peça ensaiada pela trupe foi: “O Malandro e a
Graxeira, no chumbrego da Orgia”, texto adaptado do autor João Augusto. A festa
não aconteceu, mas nasceu naquele ano a Cia. Teatral Skandalu’s, fazia parte da
trupe o Vanderlei, José Antônio, Ronilson Oliveira,Ivana, Elizangela, Célia,
Tatiane Gomes, Cristiane Zimmer e Lílian, todos moradores da cidade e colegas
do colegial. Essa primeira peça foi apresentada em Castro Alves no clube
Palmeiras, no antigo Espaço 10 e também na cidade vizinha Santa Terezinha.
No ano seguinte a Cia. Perdeu
alguns integrantes, ficando apenas Vanderlei, José Raimundo, Elizangela, Ivana
e passava a integrar à trupe Eliete. Era preciso uma nova peça e
Vanderlei escreveu “As Beatas”, a peça integrava os poucos atores que sobraram.
Sem apoio financeiro e patrocinadores a peça só foi apresentada em Castro
Alves. Em 1997 passou a integrar a Cia. Mayanna Pacheco, interpretando
uma personagem dissimulada da peça “As Beatas”.
Em 1998, restou na Cia. apenas
Vanderlei e José Antônio e durante esse ano ficou desativada. No ano 1999 a
Skandalu’s retornou aos palcos castroalvenses com a peça “O Amor da Flor” do
autor Vanderlei; com novas integrantes: Marta Nery e Jainara Barbosa.
Meados do mesmo ano a Cia
recebeu outros atores: Rafael Júnior, Silmar Pinheiro, Thyeme Medeiros, Ana
Carolina e Ariana, logo nosso escritor produziu uma nova peça “E o mundo não se
acabou!”, que foi apresentada no mês de setembro.
A Skandalu’s organizou a “I
Mostra de Teatro e Cultura de Castro Alves”, marcaram presença grupos de teatro
de Salvador, Cruz das Almas, Cachoeira e Governador Mangabeira, em novembro de
1999. O evento durou três dias, levou entretenimento e cultura para a população
carente de arte da cidade e ganhou destaque no jornal “A Tarde”.
Outra
peça escrita por Vanderlei, “Quem me chamou!”, ficou em cartaz janeiro e
fevereiro de 2000. Em março do mesmo ano, mês em que é comemorado o aniversário
do poeta Castro Alves, a trupe realizou na Praça da Liberdade o “Recital
Poético” homenageando o também escritor e ex-prefeito da cidade, o longevo
Aurino Teixeira.
Na
comemoração dos 500 anos do Brasil, foi apresentado um musical intitulado
“Brasil, mostra a tua cara”. A Praça da Liberdade virou palco também para
reapresentação de “As Beatas” e da peça “E o mundo não se acabou!”.
Em 2001, o escritor
dedicou-se a homenagear Maria Eulina Novaes, mais conhecida na cidade como D.
Morena, a namoradinha do poeta Castro Alves, com a peça “Um grito de
liberdade”.
Alguns dos integrantes foram
embora da cidade em busca de formação superior e de emprego, ficando a
Companhia desativada por algum tempo.
As atividades foram retomadas em março
de 2009, com a produção local da Oficina e Montagem da peça “História de uma Lágrima
Furtiva de Cordel” inspirada livremente na obra “A Hora da Estrela” de Clarice
Lispector, com direção geral da arte-educadora e diretora teatral, Cristiane
Barreto.
A Cia desafiou-se em abril com a
montagem da mesma peça, sob a direção de Vanderlei, apresentando-se na Câmara
Municipal.
A
história da Companhia não se difere do desenvolvimento cultural da cidade,
segundo Vanderlei os castroalvenses até tem um olhar voltado para as artes, é
possível observar que a cidade tem muitos artistas plásticos, escritores,
poetas, cantores, atores e musicistas. Só não encontram apoio do poder público
que de nenhuma maneira investem nesses artistas. Declara que em seu livro
“Entre o Sonho e a Realidade”, nota-se que o apoio foi de pessoas comuns e
comerciantes locais.
O belo
trabalho realizado pela trupe, não é apenas algo que motiva a cultura local,
mas também uma alavanca social influenciando os jovens a participarem das
peças, de escola em escola divulgando os novos trabalhos e convidando os alunos
para assistirem aos ensaios, eles passam a frequentar as oficinas e sempre são
descobertos novos talentos.
O
escritor afirma que não segue nenhum ritual para desenvolver seus textos. “Às
vezes vejo alguma coisa que me chama atenção e vou guardando (armazenamento de experiências)
e cada dia vai formulando um personagem na mente e quando vou escrever já estou
com quase toda a peça na cabeça. Mas uma coisa que faço antes de tudo é dar
título, aí com certeza a inspiração flui.”
Vanderlei
como outros castroalvenses, possui a visão de sonhador. Frisa que vive tentando
colocar a qualquer custo a cultura nos planos da cidade, mas o poder mantem os
olhos fechados.
A nova
peça do escritor, que faz questão de atuar em todas elas, é “Os Amores de
Jurema”, em cartaz na cidade.
O sucesso
da primeira e única Mostra de Teatro de Castro Alves e projetos como os
recitais realizados em praça pública deveriam ser projetos rotineiros na
cidade, apoiados pelos governantes, como forma de atrair turistas para a cidade
onde viveu o tão famoso “Poeta dos Escravos”, Castro Alves, a fim de
desenvolver a cultura local que abriga tantos outros grandes artistas.
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